Segundo a nota técnica “Mudanças no Padrão de
Exportações Brasileiras entre 2016-2020: o Brasil na contramão do mundo”,
lançada em 2021 por pesquisadores do Cedeplar, nos últimos cinco anos houve uma
alteração na composição das exportações brasileiras, revelando uma tendência
preocupante: a reprimarização da pauta exportadora do país. O setor primário,
composto principalmente por produtos como soja e minério de ferro, aumentou sua
participação de 37,2% em 2016 para 44,3% em 2020. No entanto, o que chama a
atenção é o crescimento significativo das exportações de madeira bruta nesse
período. Enquanto em 2016 foram exportadas 213 mil toneladas, em 2020 esse
número saltou para 1.368 mil toneladas.
Os dados do Dataviva permitem abordar essa questão. Ao analisar a tabela abaixo, fica evidente que havia uma tendência de crescimento entre 2016 e 2018, com um aumento de 110%. No entanto, esse crescimento se intensificou ainda mais no período de 2018 a 2020, alcançando 205%. Ao considerar o período total, o crescimento é impactante, chegando a 542%. Inicialmente, as exportações estavam avaliadas em US$ 40,8 milhões em 2016 e, em 2020, atingiram a marca de US$ 115,8 milhões.
A atenção especial dada a esse
produto se justifica pelo fato de que parte do aumento nas exportações de
madeira bruta pode ser relacionada a atividades ilegais, o que tem gerado
preocupação entre os ambientalistas, como observado na nota. Além disso, o
texto destaca os impactos ambientais significativos resultantes dessa atividade
de extração e comercialização, especialmente na região amazônica, incluindo o
desmatamento ilegal em áreas de conservação e terras indígenas.
Um fator que pode ter contribuído para esse cenário, como mostrado na nota, foi a flexibilização da legislação ambiental, como a eliminação da autorização necessária para a exportação de madeira de origem nativa e a redução das medidas de repressão a essas atividades ilegais. No entanto, é crucial analisar as origens dessa madeira bruta exportada, o que pode ser feito valendo-se de dados abaixo:
É perceptível que a região Sul é a principal origem da madeira bruta, devido, principalmente, à produção da silvicultura, seguida pela região Centro-Oeste. No entanto, destaca-se a região Sudeste, que registrou um crescimento surpreendente nas exportações. Em 2016, essa região exportou 1,68 milhão de dólares, enquanto em 2020 esse número saltou para 27,3 milhões de dólares, representando um aumento nominal exorbitante de 1625%. Nessa regionalização, entretanto, deve-se considerar que é usual o registro de origem da exportação através de empresas que não estão localizadas formalmente no mesmo local da extração. Embora fatores como demanda internacional e câmbio possam ajudar a explicar esse processo, é crucial estar alerta sobre os métodos de extração utilizados.
Em suma, o movimento deste produto ao longo desse período evidencia um fenômeno que o país tem enfrentado nos últimos anos, caracterizado pelo crescimento dos setores primários de baixa intensidade tecnológica nas exportações.
Nota técnica completa pode ser acessada também pelo site do Grupo de Pesquisa em Política Públicas e Desenvolvimento do Cedeplar.