É comum depararmos com a inscrição "produzido no polo industrial de Manaus" em muitos bens eletrônicos, mas o que realmente define a economia do Amazonas? Será que as indústrias eletrônicas desempenham um papel tão crucial quanto sugerem? Vamos aprofundar nesse tema utilizando dados do DataViva para lançar luz sobre a dinâmica econômica dessa região.
O Amazonas, segundo estado mais populoso do Norte, abriga cerca de 4,27 milhões de habitantes, sendo a maioria concentrada em Manaus, com 2,25 milhões de pessoas. Em 2020, o PIB per capita foi de R$27,5 mil, inferior à média nacional de R$35,9 mil.
Em 2021, o estado contava com 653 mil empregos formais, representando 16,57% de sua população, percentual notavelmente abaixo da média nacional de 24%. Essa discrepância pode derivar tanto da estrutura econômica peculiar de cada região quanto das diferenças nas pirâmides etárias, especialmente na faixa etária economicamente ativa.
Ao analisar o gráfico de distribuição de empregos em comparação com o treemap da massa salarial por setor, disponíveis na visualização abaixo, torna-se evidente que a administração pública não só representa 35% dos empregos, mas também concentra 49% da massa salarial do estado. Isso evidencia que o setor público tem salários superiores à média.
Da análise do gráfico acima, também depreende-se que a indústria de produtos eletrônicos desempenha um papel significativo, notadamente devido ao polo industrial de Manaus. Tal relevância da capital é mostrada no treemap abaixo, a respeito da divisão de massa salarial por município. Não chega a ser surpreendente que Manaus concentre 87% da renda salarial em 2021.
A análise mais aprofundada do cenário de atividades do Amazonas revela uma concentração em indústrias de transformação, especialmente de bens eletroeletrônicos, como disposto no mapa de atividades abaixo:
É preciso ter cautela ao interpretar esse gráfico, uma vez que, por concentrar empresas maquiladoras, o Amazonas acaba possuindo elevada massa salarial em indústrias comumente associadas a setores de alta tecnologia. Contudo, parte considerável dos insumos da produção - e justamente aqueles que demandam maior conhecimento para sua confecção, tais como circuitos integrados - são importados. Assim, o espaço de atividades do estado indica uma estrutura mais complexa do que ela realmente é, o que representa uma limitação da metodologia no caso de economias maquiladoras. Essa concentração de indústrias montadoras fica evidente ao analisarmos a composição das importações do estado, marcada por máquinas e componentes eletrônicos. Compare, nos gráficos abaixo, a composição de importações do Amazonas com a do Brasil, em 2022.
A elevada importação de peças para as indústrias maquiladoras também se reflete nos valores de importação por país de origem, com participação mais significativa de países comumente conhecidos por exportarem peças para máquinas e eletrônicos, a exemplo da China e Taiwan.
Enquanto as importações são, em sua maioria, compostas por máquinas, a pauta de exportações do estado é marcada por produtos da agricultura e da mineração. Ademais, o valor das exportações é muito inferior ao das importações: US$1,12 bi contra US$14 bi, respectivamente, em 2022. Tais fatos apontam que a produção industrial amazonense é direcionada ao mercado doméstico, dado que o enorme valor de insumos importados não se reflete em um volume similar de exportações de manufaturados.
O perfil das manufaturas amazonenses - muito caracterizadas por montadoras de produtos eletroeletrônicos - é um indício de que a indústria de transformação local não é de um nível de complexidade relevante para atingir mercados internacionais. Tal fato é corroborado pelo espaço de produtos exportados pelo estado, que deixa claro que tal unidade federativa tem vantagem comparativa em poucos produtos, muitos dos quais são de baixa complexidade - com algumas exceções, a exemplo de motocicletas. Vale salientar que o espaço de produtos abaixo destaca, usando círculos coloridos, todas as atividades em que o Amazonas possui vantagem comparativa revelada em comparação ao resto dos estados do Brasil.
As exportações amazonenses encontram seus principais destinos na América do Sul, EUA e China, como mostrado no treemap abaixo:
O perfil dos produtos exportados varia consideravelmente conforme o destino. Enquanto a Venezuela importa principalmente bens alimentícios, a Argentina demonstra interesse em produtos mais complexos, como motocicletas e monitores.
Já os EUA importam, preponderantemente, bens de complexidade mais alta do Amazonas.
A exportação de bens complexos aos EUA parece contrariar o princípio das vantagens comparativas, porém é importante lembrar que uma parte relevante desses produtos são exatamente os mesmos que o Amazonas havia importado em grande quantidade, a exemplo dos circuitos integrados. Tal fato sugere que o excedente das importações de tais insumos que não foi utilizado no processo produtivo é redirecionado para exportação. É válido ressaltar, também, que tais produtos geram uma receita de exportação muito menor do que o valor gasto para importá-los, por exemplo: em 2020, o Amazonas importou US$ 1,56 bilhão em circuitos integrados e exportou US$ 2,47 milhões aos EUA. Por outro lado, alguns produtos de alta complexidade realmente tiveram valor de exportações maior do que o de importações em 2020, a exemplo das turbinas a gás e motocicletas.
Em última análise, a economia do Amazonas se revela como um pólo industrial que é, em grande medida, composto por montadoras de produtos. Essa característica se reflete na dependência de importação de insumos de elevada complexidade e na baixa representatividade de produtos sofisticados na pauta de exportações.