A crise que a economia brasileira atravessa não se restringe à área fiscal, ela abrange também outros segmentos econômicos. Um deles é o setor externo, que corresponde ao Balanço de Pagamentos, um registro sobre todas as transações entre brasileiros e estrangeiros. Como pode ser visto na tabela abaixo, de um superávit nas transações correntes (correspondente ao saldo das exportações e importações, dos juros, dividendos, lucros e transferências de renda ao exterior) de 408 milhões de dólares em 2007, somente déficits ocorreram desde 2008. Destaque para o ano de 2014, quando o saldo negativo se eleva significativamente, atingindo 104 bilhões de dólares.
Uma maneira de melhorar o saldo das transações correntes é por meio da balança comercial, conta que registra as exportações e importações de bens e serviços. A balança comercial, por sua vez, é influenciada tanto pela atividade econômica quanto pela taxa de câmbio. A taxa de câmbio (Real/Dólar), após anos se situando no patamar de 1,50 a 2,50 reais/dólar, desvalorizou abruptamente ao longo do ano de 2015, chegando a apresentar cotação de 3,90 em novembro. Do mesmo modo, a desvalorização prosseguiu o seu curso em 2016, atingindo 4,05 em janeiro deste ano. O aumento do valor do dólar em relação ao real (desvalorização cambial) pode ocorrer devido a uma variedade de fatores. Em relação a esse período, a crise fiscal, contas externas deficitárias, estagnação do crescimento econômico e a operação Lava-Jato foram forças que auxiliaram na escalada da desvalorização cambial.
A desvalorização cambial, ao facilitar as exportações de produtos brasileiros e encarecer as importações de produtos estrangeiros, ajudou a reverter a trajetória de deterioração das contas externas. Não deixando de citar a queda da atividade econômica, que reduziu a demanda por produtos importados. Pelo gráfico abaixo, que retrata o saldo da balança comercial (exportações menos importações) de janeiro de 2000 a março de 2016, podemos perceber a inflexão no comportamento dessa conta em 2015, que passou a registrar superávits comerciais, com destaque para fevereiro de 2016, quando o maior valor do gráfico é atingido. É o ajustamento das contas externas ocorrendo, uma notícia positiva em meio à crise da economia brasileira.
De um déficit corrente de 104 bilhões de dólares em 2014, ele caiu para 58 bilhões em 2015, uma redução de quase 50%, muito em virtude do resultado da balança comercial. Vale ressaltar que o ajuste externo começou, portanto, na administração Dilma Rousseff, e tem continuado no governo do presidente interino, Michel Temer.
Todavia, como a ciência econômica é caracterizada por ganhos e perdas, conhecidos como trade-offs, a desvalorização do câmbio não acarreta somente benefícios. O aumento da inflação, pelo encarecimento dos produtos importados, e a maior dificuldade para turistas brasileiros viajarem para outros países são consequências negativas do aumento do valor do câmbio. Por outro lado, o aumento das exportações em relação às importações é uma consequência bem-vinda para o país. Em suma, isso ilustra um dos inúmeros ganha-perde (trade-offs) que existem, e ajuda a entender o porquê da dificuldade de economistas entrarem em consenso ao tentarem elaborar políticas.