O termo cidades inteligentes (smart cities) surgiu e se consolidou nos últimos dez anos. Esse conceito pode ser traduzido, em artigo da FGV, por “sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida. Esses fluxos de interação são considerados inteligentes por fazer uso estratégico de infraestrutura e serviços e de informação e comunicação com planejamento e gestão urbana para dar resposta às necessidades sociais e econômicas da sociedade”. A definição apresentada embute ideias interessantes:
a) Uso da tecnologia – Os sistemas tecnológicos disponibilizam milhões de terabytes de dados todos os dias, que precisam serem tratados e transformados em informação relevante para grupos de usuários.
b) Sistemas de pessoas interagindo – A informação disponibilizada que não provoque ação simplesmente é inútil. É o uso da informação pelos cidadãos e pelo poder público que a torna socialmente relevante.
Outro caso dessa integração tecnologia/pessoas/retorno social ocorre em âmbito estadual pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG), que integra informações do Ministério do Trabalho, da Secretaria Estadual e do Ministério da Fazenda, do DataViva, entre outros. O TCE, instituição de fiscalização, recebe uma quantidade de denúncias elevada e, para otimizar os recursos e evitar uma mobilização de agentes pouco assertiva, o órgão pode cruzar informações sobre o volume de recursos movimentados pela cidade, rastrear a ficha dos envolvidos e analisar informações de outros contratos celebrados pelos denunciados com o preço médio praticado no mercado. Tudo isso pode ser feito em poucos minutos e automaticamente, e assim estabelecer uma lista de prioridades para ação, base para a convocação dos fiscais e das polícias para agirem no caso determinado.
Nos dois casos apresentados, apesar do sucesso até o momento, a maior dificuldade não tem relação com a tecnologia, mas sim com a interação entre as pessoas. Integrar representa uma mudança cultural para qual as instituições brasileiras não foram preparadas, é preciso disposição para agir em conjunto deixando intrigas institucionais de lado em prol do bem comum.
Os municípios mineiros ainda estão distantes da aplicação geral do termo cidades inteligentes, mas já foi dado o primeiro passo com exemplos de sucesso. Cabe agora à população tomar consciência do quão importante é o uso de informação de forma integrada para melhorar a vida nos centros urbanos e, assim, exigir uma maior participação social nesse processo: seja para contribuir com informações, seja para cobrar a existência de novas iniciativas, além da manutenção do que já começou.