Em 2014 foi deflagrada a operação Lava Jato pelo Ministério Público Federal (MPF). De acordo com o MPF, o nome Lava-Jato “decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente investigadas”. Essa operação avançou para outros segmentos do país e, dentre eles, atingiu uma das maiores empresas do mundo, a Petrobras.
Descobriu-se um imenso esquema de corrupção envolvendo a empresa, políticos e empresários, e fim dessa operação não parece estar próximo. A Petrobras sofreu significativa perda de valor de mercado (valor de todas as suas ações) ao longo dos meses posteriores à descoberta desse esquema. Ora perdas abruptas, como a queda de 20% do seu valor em 3 dias (em janeiro de 2015), ora em períodos mais longos, como ao longo do ano de 2015, quando ela acumulou perda de mais de 30%.
Assim, vemos que o mercado financeiro reagiu de forma negativa frente às notícias envolvendo a Petrobras. Muitos investidores resolveram retirar o capital que tinham aplicado na empresa. Esse foi o caso de fundos financeiros de destaque nos Estados Unidos, como o Millennium Management, o Discovery Capital e o D. E. Shaw. Por outro lado, o bilionário George Soros foi contra essa tendência: no início de 2014, ele possuía aproximadamente 2 milhões de ações da empresa. No final de 2014, mais do que duplicou essa quantia, atingindo a marca de 5,1 milhões de ações. Nesse período, confidenciei a um amigo: se eu tivesse poupança, colocaria tudo na Petrobras.
Em outubro de 2016, jornais do Brasil e do mundo propalam: “Petrobras tem valorização de 160% no ano”. A empresa que teve o seu valor de mercado abaixo de 100 bilhões de reais por alguns meses, hoje exibe um valor de 240 bilhões. O bilionário Soros ficou mais rico do que antes. Eu teria aumentado o meu capital, caso o tivesse investido. E fundos que retiraram o capital da empresa deixaram de lucrar. Muitos brasileiros que afirmaram em 2014 que a empresa estava quebrada se enganaram. Podem ser incluídos nessa lista analistas de mercado, políticos e apresentadores de jornais.
É comum hoje em dia confundir o valor de mercado da empresa com o seu desempenho no setor produtivo. As ações de uma empresa e, por conseguinte, o seu valor de mercado, é o que investidores avaliam. Caso tenham confiança na empresa, irão direcionar seus fundos para ela, culminando na valorização de suas ações. Por outro lado, caso acreditem que a empresa está em problemas, veja bem, basta somente “acreditar”, isso se tornará uma profecia autorrealizável e a empresa ficará em dificuldades, pois estes tirarão o dinheiro investido nela.
Tome essa lição de economia e não a esqueça: a riqueza de qualquer sociedade advém exclusivamente da natureza e do trabalho. Máquinas não criam valor, quem as opera sim. Máquinas não funcionam sozinhas, precisam de um trabalhador, mesmo que seja para realizar pequenas funções. Todo produto que compramos e usamos tem sua origem na natureza, é a matéria-prima. Se hoje somos uma sociedade com elevado padrão de vida, isso se deve à crescente melhora no manuseio das matérias-primas, na rapidez em produzir.
Perceba que a riqueza não é produzida pelo setor financeiro. Se o valor das ações de determinada empresa está elevado, isso não significa que ela é produtiva, nem mesmo que poderá crescer no longo prazo. Apenas nos diz que ela é bem avaliada no presente. Em 2014, o valor da Petrobras despencou, mas a empresa, em termos produtivos, pouco se alterou. Agora, em 2016, da mesma forma, a empresa não aumentou drasticamente a sua produtividade. Apenas voltou a ser bem avaliada pelos investidores.